A Couroupita guianensis Aubl. é uma planta nativa da Amazônia, embora tenha origens de diversas partes do mundo. Na Índia, por exemplo, é vista como uma árvore sagrada, reproduzida em templos para adoração. Sua flor, muito exótica, apresenta pétalas com uma curvatura muito incomum, que os hindus associam à Linga, uma cobra sagrada que protege o Lorde Shiva. Os nomes populares são muitos: castanha de macaco, cuia-de-macaco, amêndoa dos andes, amendoeira dos andes ou coco-da-índia. Mas no Brasil o nome mais comum é abricó-de-macaco.
Ela foi primeiramente catalogada pelo botânico francês Jean-Baptiste Aublet, em 1755, durante seus estudos na Guiana Francesa. Impossível não reconhecer suas flores que surgem de estranhas inflorescências que se destacam do tronco (podendo chegar a 3m de comprimento!), além, é claro, de seus frutos, com cerca de 3kg e 20cm de diâmetro, que mais parecem balas de canhão, pendendo perigosamente sobre a cabeça dos transeuntes, ou ameaçando o teto dos carros que teimam em estacionar sob sua sombra. Por isso não se deve plantá-la em locais com circulação de pessoas e automóveis, como calçadas e ruas, nem em pequenos jardins residenciais. Sua beleza deve ser admirada à distância, geralmente em parques, jardins botânicos, grandes jardins e fazendas, embora no Rio de Janeiro e em Niterói esse erro tenha sido cometido em abundância. Após abertos, os frutos liberam um cheiro de tal forma fedorento que os homens sequer pensam em consumi-los. Já os macacos adoram a iguaria, e são muitas as espécies que vêem o fruto como um bom banquete. Daí o nome “abricó-de-macaco”.
Integrante da família Lecythidaceae (a mesma da castanha-do-Pará), o abricó-de-macaco tem papel influente nas culturas rurais e tribais como uma planta medicinal, atuando como anti-inflamatório e até mesmo antimicrobiano. Para os indianos, todas as partes da planta podem ser utilizadas para tratar um grande leque de doenças: hipertensão, malária, problemas renais e estomacais, alergias e muitos outros males. Na literatura científica confirma suas propriedades microbianas e anti-inflamatórias, e adicionam ainda efeitos contra helmintos e diabetes, além de ser capaz de inibição da formação de placas ateroscleróticas, que ocorre pela deposição de lipídios oxidados nas paredes das artérias causando um bloqueio no fluxo sanguíneo, capaz de afetar o sistema circulatório como um todo. Seus frutos aparentemente são ricos em alcalóides, embora sua composição química possa variar de acordo com seu nível de maturação do fruto. O mais presente, chamado indirubina, é originado pela mudança de um átomo de hidrogênio do também alcalóide índigo, encontrado em suas sementes. O índigo, é claro, dispensa apresentações: é um pigmento muito conhecido na indústria têxtil pelo seu uso na coloração de calças jeans devido à sua cor azul intensa.
A árvore foi uma das escolhidas por Roberto Burle Marx para arborizar a Praça de Casa Forte, seu primeiro projeto paisagístico, em Recife durante a década de 1930, e desde então se tornou uma das marcas do grande paisagista. Foi ele quem primeiro identificou na árvore uma beleza exótica que merecia ser explorada. Nos anos 1960, quando já era um paisagista consagrado, Burle Marx usou a Couroupita guianensis em um de seus projetos mais conhecidos: o paisagismo do Aterro do Flamengo. Burle Marx admirava o aspecto da árvore, mas também sua altura. Chegando a 25 metros, sua presença propõe um isolamento das edificações do entorno, especialmente de prédios altos. As curvas sinuosas do Aterro do Flamengo acompanham uma fileira muito imponente de edifícios, mas quem está no Aterro é protegido desse paredão pela presença de árvores igualmente imponentes, como o abricó-de-macaco.
A UFF nasceu em 18 de dezembro de 1960, com o nome de UFERJ – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. O nome atual só veio em 1965. Foi uma grande conquista para o Estado do Rio de Janeiro, que ganhou sua segunda Universidade Federal, e especialmente para a Cidade de Niterói. Inicialmente, a Universidade foi formada pela fusão de várias faculdades já existentes em Niterói, mas desde sua criação já havia a intenção de agrupar as faculdades em uma só área, consolidando uma “cidade universitária”. Apesar desta necessidade, não havia um lugar planejado para o estabelecimento de um espaço exclusivo para a UFF, visto que as faculdades se localizavam de maneira dispersa no tecido urbano da cidade. Algumas possibilidades foram pensadas, porém a decisão se deu por utilizar um trecho do Aterrado Praia Grande, na área do Centro expandido, cuja conclusão das obras ocorreu na década de 1970.
Os grandes exemplos utilizados no planejamento da UFF foram a Universidade do Brasil e o campus da Universidade de Brasília, que estava sendo construído nessa mesma época. No caso da Universidade do Brasil, atual UFRJ, havia uma grande característica em comum, já que a Ilha do Fundão é um grande aterro que conecta 9 ilhotas que haviam ali originalmente. A cidade Universitária da UFRJ havia sido inaugurada em 1954, e era um caso a ser estudado para a instalação do campus da UFF.
Para se entender a história do Aterrado Praia Grande em Niterói, é necessário acercar-se ao contexto do início do século XX, período de grandes transformações urbanas nas metrópoles brasileiras, cuja principal referência é a Reforma de Pereira Passos na cidade do Rio de Janeiro. Niterói, então Capital do Estado do Rio de Janeiro, inicia também um período de obras e ordenamento que buscavam alinhar a cidade aos preceitos modernos de higiene e salubridade, dentre as quais pode-se destacar a abertura da Alameda São Boaventura, a criação da Estação Balneária de Icaraí e do jardim do Campo de São Bento. O plano de melhoramentos para a cidade de Niterói incluía o aterro da zona central da cidade e da Ponta da Armação ao Gragoatá, e ganhou o nome de Aterrado da Praia Grande.
A primeira parte do plano de aterramento que ganhou forma foi realizada na enseada do bairro de São Lourenço, para construção do Porto de Niterói, inaugurado em 1929. Essa era peça fundamental para a economia da cidade. Mas as obras de aterramento das partes centrais da cidade se arrastaram por décadas, a passos de tartaruga, especialmente após a transferência da capital federal para Brasília em 1960 e a transformação da cidade do Rio de Janeiro em estado da Guanabara, que canalizaram os recursos federais. Em 1969, segundo relatórios municipais, apenas 19% do aterrado havia sido feito. A ideia era transformar o aterrado em um enorme parque, uma área de lazer para o povo fluminense e carioca bem aos moldes do Aterro do Flamengo, que alguns anos antes havia sido inaugurado do outro lado da Baía de Guanabara. Os dois seriam como “parques irmãos” ladeando a baía. De um, seria possível vislumbrar o outro. Mas conforme Niterói perdia importância política, o projeto do governo do estado para o Aterrado chegou a ser paralisado. Enquanto isso, os moradores de bairros como São Domingos, Gragoatá e Boa Viagem se deparavam com a perda da proximidade ao mar e com a presença de uma extensa área sem conservação e sem uso definido. Tudo o que havia era o transtorno de uma obra lenta e um aterro ainda não acabado, que só havia afastado a população da beira do mar e ainda não havia trazido nenhum benefício aos niteroienses. Por isso, quando a Universidade Federal Fluminense solicitou à Municipalidade o uso de parte do Aterrado para servir como campus da Universidade, os habitantes encararam como uma oportunidade de uso do espaço que até então estava abandonado pelo poder público. A partir de 1984, foram construídos diversos edifícios nos campi do Gragoatá e da Praia Vermelha, como o restaurante universitário, a biblioteca central do Gragoatá e um novo prédio para os cursos de Engenharia. O “campus universitário” foi inaugurado em 1990, porém sem a construção de todos os edifícios. Durante toda a década seguinte, a concretização do Plano Diretor da Universidade se deu aos poucos, de acordo com a disponibilidade de recursos do governo federal.
Nos aterros ocupados pela Universidade, tanto no campus da Praia Vermelha como no Gragoatá, o abricó-de-macaco foi a árvore escolhida para marcar o local onde os aterros começam. Na Praia Vermelha, é a árvore em frente ao prédio do Instituto de Física. No Gragoatá, é a árvore em frente ao Restaurante Universitário número 1. São marcos que indicam que, dali em direção à baía, é tudo aterro. São uma espécie de portal entre o que havia e o que foi feito pelo engenho do homem, avançando em direção às águas da Guanabara. Os abricós de macaco também estão presentes no paisagismo da Ilha do Fundão, e portanto formam um interessante triângulo conectando três aterros ao redor da Baía da Guanabara: a Ilha do Fundão, o Aterro do Flamengo e o Aterro Praia Grande.
Para usar em sala de aula:
BIOLOGIA
SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO e NOMENCLATURA CIENTÍFICA a partir das espécies da família Lecythidaceae
FISIOLOGIA e ANATOMIA VEGETAL por conta de seu tipo de floração (caulifloria) e tamanho de seus frutos
HISTÓRIA
HISTÓRIA da Universidade Federal Fluminense a partir da construção do campus da Praia Vermelha sobre um aterro
ARTES
CORANTES NATURAIS a partir do índigo extraído de seus frutos
GEOGRAFIA
TERRITORIALIZAÇÃO a partir dos processos de aterramento da orla de Niterói e o paisagismo no Brasil
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