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luizmors9

Amendoeira da Praça Getúlio Vargas

Atualizado: 19 de out. de 2023


Nome científico: Terminalia catappa


“– Fala, amendoeira – porque fugia ao rito de suas irmãs, adotando vestes assim

particulares, a árvore pareceu explicar-lhe: — Não vês? Começo a outonear. É 21 de março, data em que as folhinhas assinalam o

equinócio do outono. Cumpro meu dever de árvore, embora minhas irmãs não respeitem

as estações..”


Esse trecho, reparem que tomei o cuidado de colocá-lo entre aspas, fique claro que não é meu. Antes fosse, porque o tomei emprestado de ninguém menos que Carlos Drummond de Andrade. É um pedaço de uma de suas crônicas, “Fala, Amendoeira”, onde ele trava diálogo com uma amendoeira, tão sua companheira que ele chega a considerá-la como incorporada aos seus bens pessoais. Esse conto inclusive virou nome do livro que reúne os textos que o poeta publicou no jornal Correio da Manhã.

A amendoeira de Drummond me lembra diretamente uma que havia na minha rua (e que garoto não teve uma?). Acostumei-me a vê-la indo de uma calçada à outra, como uma espécie de guarda-chuva, que nos dias de toró nos dava o descanso e o fôlego para que chegássemos à segurança de casa. Nunca fui um dos apreciadores dos seus frutos, azedos demais para mim. O que me interessava neles eram outras funcionalidades: em minhas mãos viravam excelentes marimbas, ou, quando necessário, proteção contra eventuais desafetos, valentões da rua de baixo.

Trata-se da amendoeira da índia (Terminalia catappa), árvore da família das combretáceas, também conhecidas como chapéu de sol, castanholas ou amendoeira brava. São originais da Malásia, e foram trazidas para o Brasil, inicialmente, por razões práticas. Os troncos das árvores eram usados como contrapeso, ajudando no lastro dos navios. Ao chegarem ao território brasileiro e já sem função, os troncos, com seus frutos e sementes, eram descartados na areia da praia. As sementes foram se espalhando naturalmente pela terra, e acabaram nascendo em toda a orla do Rio de Janeiro. Depois, elas foram plantadas propositalmente nos subúrbios, porque eram áreas de muito calor, passando a ser utilizadas exaustivamente na arborização pública.

Ainda que estejam em todos os lugares e que sejam vulgarmente conhecidas como amendoeiras, elas não têm muito a ver com as homônimas populares na Europa. As amendoeiras praianas têm o nome científico de Terminalia catappa e as outras são as Prunus dulcis. Nem seus frutos podem ser comparados às amêndoas que dão origem ao licor italiano Amaretto, às milhares de variações de sorvete ou ao doce típico português toucinho do céu.

Ela se presta como nenhuma outra a ser plantada à beira mar, pois não teme os terrenos arenosos ou a alta salinidade. Também os ventos marítimos nada podem contra ela, já que suas raízes são muito firmes. Infelizmente, as mesmas raízes que garantem sua existência à beira mar, teimam em levantar calçadas e muros. Outro problema é a queda das suas folhas, que exige das companhias de limpeza pública um esforço triplicado para evitar o entupimento dos bueiros. Por esses motivos, muitas cidades regulamentaram a proibição do plantio de novas amendoeiras (é o caso, por exemplo, do Rio de Janeiro, que proíbe o plantio de novas árvores do gênero desde 1994). A resolução condena as cidades a ficarem somente com as amendoeiras já plantadas, o que, na prática estabelece um prazo para que os cidadãos convivam com essa árvore fenomenal. Uma vez que as amendoeiras morram, não existirão outras ornando nossas ruas. É uma pena, porque o acréscimo de beleza que elas proporcionam ao morador da cidade é qualquer coisa de imperdível. Sua folhagem passeia por uma exuberante palheta, marcando cromaticamente a mudança das estações. Inicialmente são verdes, de um verde vivo, com cheiro de verde e de natureza. Daí passam, num piscar de olhos, ao amarelo, um amarelo solar, que começa, lentamente, a receber nódoas alaranjadas, que cobrirão lentamente as folhas até atingir um vermelho vivo, quase sanguíneo. É o prenúncio da queda. Logo as árvores apresentam-se nuas, expondo seu esqueleto de galhos. A mudança de cor das amendoeiras tem a ver com a clorofila — ou a falta dela. Respondendo a mudanças sutis no clima ou na luminosidade, hormônios vegetais induzem a redução nos níveis de clorofila, e o que fica na folha são pigmentos avermelhados, como os carotenos. A consequente redução na capacidade de fazer a fotossíntese faz as folhas caírem, o que é providencial no verão, já que, com menos folhas, a árvore sofre menos com a perda de água. Mas a primavera traz de volta os brotos e o ciclo recomeça.

Para além da mera beleza, chego a me preocupar com a saúde mental do cidadão privado do contato com as amendoeiras, porque, como bem notou Drummond, elas são calendários naturais em meio à nossa paisagem tropical, que desconhece o ritmo das estações. É isso que a amendoeira oferece de mais precioso às cidades brasileiras, a lembrança da existência das estações do ano, a certeza que existe uma cadência e uma lógica na passagem do tempo. Nem tudo é loucura e confusão- existem leis e regras regendo a vida. O leitor pode imaginar que isso é um exagero, e que o transeunte, cidadão que lida com os problemas do mundo moderno, não repara na singela mudança de cores das amendoeiras. Mas eu me permito discordar. Mesmo que de forma subliminar, no seu inconsciente, o indivíduo que passar por uma amendoeira, em uma de suas muitas colorações ao longo do ano, capta sua mensagem: “calma, tudo tem seu tempo!”

Existem centenas de amendoeiras na cidade. Somente na orla da praia de Icaraí contam-se dezenas. Mas na Praça Getúlio Vargas, em frente a Reitoria da Universidade Federal Fluminense, um exemplar enorme domina a paisagem. Estando na praça, essa árvore causa menos problemas ao calçamento do que suas irmãs à beira do mar. Essa é a Amendoeira Notável de Niterói, verdadeiro calendário vivo no meio da cidade.



PARA USAR EM SALA DE AULA

Abaixo temos a sugestão de temas e conceitos que podem ser abordados em sala de aula tendo a Amendoeira da Praça Getúlio Vargas como ponto de partida.


Sugestões para complementar as abordagens são bem vindas. Podemos providenciar kits com madeiras, lâminas histológicas e amostras de folhas para uso em sala de aula.




BIOLOGIA

SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO a partir da nomenclatura científica abordando as diferenças para as outras amendoeiras de uso culinário

ECOLOGIA abordando a amendoeira como espécie invasora, sua resistência à salinidade e tolerância ao vento

FISIOLOGIA VEGETAL apontando sua troca anual de folhagem, a alteração de cores, produção de pigmentos e sua resposta à alterações na temperatura e umidade

ANTROPOLOGIA

HISTÓRIA

LITERATURA


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