As árvores notáveis de Niterói se espalham por diversos bairros, desde o centro até a Região Oceânica. Desde que esse assunto nos interessou, aproveitamos toda oportunidade que surge para perguntar se as pessoas sabem da existência dessas árvores, e é possível contar nos dedos a quantidade de vezes que alguém de fato sabia da existência delas. Mesmo os poucos amigos que estavam à par de sua existência não sabiam dizer que árvores eram essas. Nossos amigos, como a grande maioria da população urbana, sofrem de impercepção botânica.
O termo “impercepção botânica” apareceu pela primeira vez no artigo “Preventing plant blindness”, publicado pelos botânicos Elisabeth Schussler e James Wandersee em 1999. Na realidade, desde a década de 1980 ambos já vinham trabalhando com a percepção da sociedade sobre as plantas, com a forma como a botânica é ensinada em escolas e universidades. Em um trabalho anterior, chamado “Plants or animals: Which do junior high school students prefer to study?” Wandersee já mostrava o tamanho do problema, com uma grande maioria dos estudantes considerando o estudo de botânica mais chato que o estudo de animais.
Pode-se pensar que este fenômeno seja óbvio. Afinal, os animais se movem, comem, têm olhos para a visão, comunicam-se pelo som, exibem comportamentos que são divertidos de assistir, têm ciclos de vida curtos e observáveis, interagem com os humanos, podem aprender, ter companheiros, dar à luz e criar seus filhos, características que os tornam aparentemente mais atrativos que as plantas. Mas as plantas também possuem características fascinantes, em sua fisiologia, seu desenvolvimento ou suas estratégias de sobrevivência. Porque então o fenômeno da impercepção botânica acontece?
A impercepção botânica é compreendida hoje como um fenômeno com três características principais: a incapacidade de reconhecer a importância das plantas na biosfera e no cotidiano; a dificuldade em perceber os aspectos estéticos e biológicos exclusivos das plantas; e a ideia de que as plantas sejam seres inferiores aos animais. Ela se manifesta nas coisas mais simples e existem vários trabalhos mostrando suas consequências. Quando são confrontadas com imagens de plantas e animais, as pessoas tendem a lembrar dos animais que viram, mas não das plantas. É difícil determinar o motivo desse fenômeno. Certamente existe um componente educacional, na maneira como ensinamos biologia nas escolas e universidades. E se mesmo os biólogos reproduzem esse comportamento, então entramos em uma bola de neve. Esses biólogos falharão em comunicar à sociedade a importância das plantas, iniciando um ciclo vicioso onde profissionais com problemas de percepção alimentam uma sociedade igualmente incapaz de perceber adequadamente as plantas.
A missão que nos impusemos, de visitar as árvores notáveis de Niterói, é também uma tentativa de combater a impercepção botânica que ainda existe em nós. Cada uma dessas árvores testemunhou o desenvolvimento da cidade, viu seus bairros mudarem ao longo das décadas, ganharam importância em sua vizinhança e se tornaram elementos centrais para determinada parte da cidade. Visitando-as, buscamos observar e entender melhor a cidade.
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